A palavra de grafia estranha vem, aos poucos, ganhando o mundo. Mas o que é a tal da sororidade? Quais são seus significados? Seu surgimento? E, também muito importante, o que não é?
Resumindo: ela é um movimento feminino que busca enaltecer a parceria e a amizade entre mulheres. Ela é necessária para quebrar o mito de que a mulher é rival da outra, promovendo uma rede de proteção genuína frente aos desafios que encontramos por uma questão de gênero. Por exemplo, sororidade pode diminuir índices de violência sexual e doméstica e atuar minimizando a desigualdade salarial em um mercado de trabalho ainda muito machista.
Anos atrás comecei a monitorar esse termo que é até meio difícil de falar, quase travando a língua. Como jornalista, achava muito interessante um palavra que ainda não está em dicionários formais começar a aparecer por locais que frequento. Além disso, muitas leitoras também falavam da tal sororidade. A minha curiosidade inicial virou então um projeto.
Em um primeiro momento, decidi fazer da sororidade tema de uma pesquisa que se transformaria em um documentário. Uma editora, no meio dessa jornada, conheceu meu trabalho e se interessou pelo tema. Queriam que eu escrevesse um livro.
Pois bem, fiquei cinco anos então desenvolvendo esse projeto que agora está disponível para compra física e e-book.
Mas o que é sororidade?
Mais do que uma palavra que significa união entre mulheres, sororidade é um movimento social quase que espontâneo. Que nasceu nas ruas e foi ganhando corpo pela urgência de proteger mulheres dos problemas causados pelo machismo. Sororidade é a ideia de que a mulher pode sim ir mais longe – e com mais segurança – se encontrar na outra uma fonte de apoio e de carinho.
Sororidade é você ajudar outra mulher a conquistar algo que fará sua vida melhor.
Por exemplo, incentivar uma pequena produtora comprando seus produtos. Essa pequena produtora, muitas vezes, não consegue estar trabalhando em uma empresa, com carteira assinada, por ter filho pequeno e acúmulo de funções. Mas ela, mesmo assim, tenta seguir empreendendo.
Sororidade é pressionar o governo e estruturas privadas a darem mais condição da mulher trabalhar, mesmo sendo mãe. É uma mulher ganhar o mesmo que um homem para fazer a mesma função. Até hoje ganhamos, em média, 30% a menos simplesmente por uma questão de gênero.
Sororidade é você ver uma menina em situação de risco, em uma balada, e chegar perto para conversar. É você acolher uma mulher que está embriagada e não deixar um homem – ou um grupo masculino – chegar nela para tentar alguma aproximação. É você, dentro de um ônibus ou vagão de trem, se juntar a outras mulheres para ajudar uma vítima de assédio.
Sororidade é você se abrir para conversa com mulheres que passaram por violência doméstica, por uma gravidez mais complicada, por um pós-parto difícil e tentar ser o apoio, mesmo que psicológico, em um momento delicado.
Sororidade é você fazer pressão social e no poder público para que mulheres em situação vulnerável consigam ter uma vida mais tranquila com a prisão de um agressor ou o respeito de uma medida protetiva.
É a mulher jogar no time das outras mulheres – amigas ou não – para que todas estejam mais perto de uma situação de equidade de gênero.
Sororidade é concordar com tudo o que a outra mulher fala ou faz?
Não.
Eu vejo muitos homens e mulheres tendo posturas violentas com mulheres e homens feministas e pró-feminismo. Quando uma mulher se posiciona como feminista ou como uma mulher que apoia a sororidade é comum perceber uma caça aos defeitos da mesma. Feminismo ou sororidade não são e nunca serão sinônimos de perfeição, pois trata-se de movimentos de e para pessoas. E pessoas erram. É uma luta diária desconstruir padrões machistas, já que vivemos nossa existência toda inserida neles. Mas o crucial é tentar – de verdade – aniquilar o machismo que prejudica mulheres e homens em todos os cantos do mundo.
Sobre a sororidade, especificamente, a confusão fica ainda maior.
Se uma mulher fez algo que você não gostou, você então deve “passar o pano para ela” apenas por ser mulher e por uma questão de sororidade? Não.
Você tem todo o direito de discordar e não querer conviver com alguma pessoa, só não faça isso se baseando em estereótipos de gênero.
Por exemplo, no ambiente de trabalho existem profissionais que são tóxicos e, realmente, querem te prejudicar. Homens e mulheres.
Mas muitas vezes uma mulher que conseguiu subir de cargo, e não fez isso através de condutas sem qualquer ética, são apontadas por homens e mulheres como oportunista e também como alguém que precisou sair com um superior para conseguir estar ali. Tem uma conotação sexual que raramente é vista quando um homem sobe de cargo.
Com a pessoa tóxica você não precisa ter medo de formular suas opiniões e traçar caminhos de proteção. Com a mulher que simplesmente subiu de cargo, sem prejudicar colegas, você deve colocar a sororidade na prática e repensar se isso não está ocorrendo apenas porque, em algum momento, alguém te falou que mulher é rival da outra.
Outra forma de colocar a sororidade em dia é não julgar a vítima de violência sexual ou doméstica. Ofereça apoio e não preconceitos para amenizar o sofrimento que ela está passando.
Uma mulher nunca poderá ser responsabilizada por um estupro porque estava vestindo determinada roupa.
Uma mulher que apanha do marido, muitas vezes, está presa em um relacionamento que a afastou de amigos, do trabalho e até do convívio com a família. E em muitos casos isso não foi feito de forma descarada. É subliminar, passo a passo. Quando a mulher percebe, nem tem mais como se sustentar direito ou se sobrecarrega sustentando os filhos que teve com o agressor. Aliás, muitas vezes o agressor nem era descaradamente violento antes de colocar a mulher nessa situação de dependência financeira, patrimonial ou afetiva.
Antes de julgá-la, se coloque a disposição para ajudar e até a ser testemunha em um processo. Ou então doe recursos para organizações de proteção.
Quer colocar na prática?
Depois de saber um pouco o que é e o que não é sororidade, confira dez passos para você colocar a união feminina no dia a dia:
Sobre o livro:
#sororidade – quando a mulher ajuda a mulher é uma obra publicada pela Editora Europa, em 2020. Está disponível para compra física, para receber em casa, ou então como e-book, na plataforma Kindle, da Amazon.
Ela é uma pequisa de mais de cinco anos sobre o tema. Foram entrevistadas mais de 500 mulheres, entre anônimas e especialistas, para catalogar e consolidar o conceito.
Sobre a autora:
Paula Roschel é jornalista especializada em beleza, moda e bem-estar. Já integrou a equipe de renomados veículos brasileiros e também atuou como jornalista na Inglaterra – paula@jornaldamodabrasil.com