Conheci os produtos da The Body Shop quando morava em Londres. Muitas vezes que passava em frente suas lojas no centro da capital inglesa notava ações em prol da causa animal. Como participante do movimento “cruelty free”, de cara já abracei a marca por seu ativismo.
Mais de dez anos se passaram e agora, no site JornaldamodA e com a Editora Europa, lanço meu livro #Sororidade – quando a mulher ajuda a mulher. Ele é mais um passo que dou na tentativa de fazer o mundo ser mais livre e justo – agora focando na equidade de gêneros, mas sem deixar a causa animal de lado.
Unindo dois mundos
Com o novo projeto em mãos, resolvi construir uma série de entrevistas com mulheres poderosas. Na entrevista de hoje um passo além: unir minhas paixões.
A conversa de hoje sobre empatia feminina tem como protagonista Karina Meyer, porta-voz da The Body Shop e diretora de marketing da marca no Brasil.
Mulheres em cargos de liderança
Karina começou sua jornada na empresa em 2015. Ela possui 18 anos de experiência no gerenciamento de equipes, inovação, marketing, estratégia, consumer insights e desenvolvimento de negócios.
A minha curiosidade em relação a ela talvez seja a de tantas mulheres que buscam trilhar caminhos de liderança corporativa: como é ser uma mulher em cargo estratégico, em uma empresa ativista? Será que a sororidade e a mentoria feminina também aparecem na hierarquia?
JornaldamodA – Como outras mulheres te inspiraram ao longo de sua vida profissional a se tornar a pessoa que você é hoje?
Karina – Durante minha vida profissional tive a sorte de cruzar com mulheres incríveis, que
olhavam para as outras mulheres como aliadas e não como adversárias, que buscavam puxar umas às outras e dar espaço de fala incentivando, encorajando e apoiando. Notava que quando falávamos sozinhas, no canto da sala, não éramos ouvidas, mas quando nos
apoiávamos a nossa voz fica mais forte e mais potente. Notava também que as mulheres nunca olhavam um problema sobre uma única perspectiva. Olhar o todo fazia muita diferença na hora de tomar as melhores decisões. Esse tipo de comportamento sempre me despertou uma sensibilidade para as outras mulheres. Sempre busquei ter mulheres na minha equipe para trazer esse olhar. Além disso, como líder, avaliei tudo o que eu poderia fazer para cada vez mais trazer mulheres para posição de liderança.
JornaldamodA – E na vida pessoal?
Karina – Minha mãe certamente é uma inspiração pela sua força, que nunca a deteve para
obter suas conquistas, mas fortaleci meu olhar sobre sororidade nas minhas amizades
verdadeiras. Elas me mostraram como podemos nos apoiar e nos fortalecer.
Em círculos de confiança nos permitimos ser mais vulneráveis e isso nos fortalece, nos faz enxergar que passamos pelos mesmos desafios e dessa forma podemos dar valor ao que somos capazes de construir juntas.
JornaldamodA – Você acredita que as mentorias e alianças genuínas entre mulheres mudam a realidade de diferença salarial ou condições desfavoráveis, em relação ao gênero, no mercado de trabalho atual?
Karina – Com certeza. Uma vez ouvi da Suzi Pires um conceito bem interessante sobre
quebrar o teto de cristal – quando você passa por ele você tem a responsabilidade de levar outras mulheres com você. Esses processos devem ajudar as mulheres a encontrar o caminho, e deixá-lo menos sofrido para cada uma de nós. As mentorias e alianças são extremamente importantes e com toda certeza podem mudar sim as condições desfavoráveis.
JornaldamodA – Para você, o que é sororidade?
Karina – Sororidade é união feminina, uma aliança cheia de empatia que visa
buscar interesses em comum para atingir o mesmo objetivo. Um conceito que precisou ser
criado para estimular a mulher a perceber que a nossa desunião é só mais um reflexo de uma sociedade machista e patriarcal, e não algo que por essência faz parte da nossa natureza. Afinal, não existe ser mais empático e agregador do que a mulher.
JornaldamodA – Como ela é implementada na empresa em que trabalha?
Karina – Podemos considerar que a TBS nasceu com sororidade. Anita Roddick sempre
deixou claro as características e objetivos da marca. Está em nosso DNA. Desde ativismo,
direito da mulher, feminismo, luta pela igualdade e diversidade. Costumamos dizer que a
sororidade é parte da The Body Shop.
JornaldamodA – Poderia citar filmes ou músicas que têm mulheres como protagonistas, diretoras, roteiristas, autoras ou compositoras que te dão mais energia para seguir em frente?
Karina – Esse ano fomos brindadas com o Pulitzer para biografia da escritora, crítica e ativista Sontag. Uma das melhores biografias que eu já li. Outra mulher que me inspira por ter revolucionado uma indústria extremamente machista é a Erica Lust que, através do olhar feminino, vem reinventando a indústria de filmes eróticos. Recentemente, pude sentir de perto a energia de Patti Smith, em passagem pelo Brasil. Um ícone dos anos 70 que inspirou e ainda inspira milhares de mulheres de diversas gerações.
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Foto Sororidade em uma empresa ativista, com Karina Meyer: Divulgação.