Com a chegada do isolamento social, a fotógrafa brasileira radicada nos Estados Unidos, Camila Frade, resolveu se reinventar através do feminino.
Batemos um papo com a artista para entender um pouco mais sobre essa fase de editoriais fotografados remotamente e também entender como a sororidade está presente em seus projetos.
JornaldamodA – Qual foi o primeiro impacto quando você soube que ficaria em isolamento social?
Camila Frade – Não parecia real o que estava acontecendo. Sinto que fomos colocados de castigo pela mãe natureza para repensar nossa vida em conjunto, nossos hábitos e nossos valores.
JornaldamodA – Como foi adaptar o trabalho neste período?
Camila Frade – Na verdade, ainda estou em fase de adaptação – estudando mais, aprendendo e desenvolvendo novas técnicas, criando mais projetos próprios do que antes e colocando mais minha arte no mundo.
Nos últimos dias realizei alguns ensaios pelo FaceTime, com algumas mulheres. Isso nos permite, mesmo que distantes, criar composições, testar ângulos, luz, poses e cores.
Todos os ensaios foram criados por mim e pela modelo. Elas me mandam vídeo do espaço que estão, e, juntas, pensamos no estilo, vemos referências, elementos pra compor a imagem e emoções.
Elas mandam fotos de looks e então selecionamos alguns, pegamos tudo o que gostamos e o que queremos. Pronto! Ligo no FaceTime, conversamos um pouco, e começamos o editorial de fotos.
JornaldamodA – Me fala um pouco sobre sua carreira e últimos trabalhos?
Camila Frade – Minha carreira se iniciou de uma forma tão natural que fica difícil dizer exatamente quando, mas acredito que a primeira vez que vim pra Los Angeles, em 2015, passei a me interessar mais por arte. Passei a ler mais sobre cores, composições, histórias, pinturas e fotografia. E dai em diante trabalhei com styling, produção artística, e fotografia.
Hoje em dia estou mais focada na fotografia. Eu e três sócios temos uma produtora, chamada THE BIG ORANGE, que está localizada em Los Angeles, na Califórnia. Meus últimos trabalhos foram feitos junto com a minha equipe.
Antes da quarentena, produzimos três clipes de duas cantoras do Brasil aqui em Los Angeles. A dupla se chama MARGARIDAS e o primeiro vídeo foi lançado esses dias. A música se chama CALOR, você consegue assistir no youtube.
Em breve, será lançado os outros dois também.
Dentro da quarentena, produzimos um fashion film pelo FaceTime com a artista Flor Jorge e alguns shootings com outras mulheres. Realizamos alguns ensaios e vídeos dentro da nossa casa, que será lançado até o fim do mês. Estamos nos mantendo ativos, e seguindo a vida.
JornaldamodA – Vejo que você fotografa muitas mulheres. Quais são suas motivações?
Camila Frade – A união das mulheres é algo muito poderoso. Acontece algo mágico quando nos unimos. Nós, mulheres, somos reprimidas desde sempre e de várias formas. Então é importante que criemos um espaço seguro pra nos abrirmos e expressarmos.
É um momento de acolhimento, de resistência, de verdade e, muitas vezes, até de cura.
Me encanta quando uma mulher se abre comigo na fotografia e compartilha seus medos, suas inseguranças, suas curvas e quando arrisca novas formas de mover seu corpo, de se ver e de se expressar.
A fotografia me proporciona essa troca tão poderosa com mulheres incríveis, mulheres que amam, gozam, choram, sangram, renascem e dançam.
Existe muita vida dentro de todas nós. Pra mim não existe nada mais prazeroso do que criar junto com outra mulher.
JornaldamodA – Você acredita que a sororidade faz parte dos seus projetos?
Camila Frade – Com certeza! A sororidade é uma peça importante e fundamental no meu trabalho. Tento sempre agregar mulheres nos meus projetos e me conectar com elas.
É importante deixar qualquer diferença de lado e ver aquela mulher única, com suas alegrias e dores, sem julgamentos. A sororidade é algo muito maior do que qualquer diferença que você e outra mulher possam ter.
Meu objetivo na fotografia, com essas mulheres, é elevar sua autoestima, sua autoconfiança, assim como muitas mulheres já fizeram isso por mim. No fim, é algo por todas nós.
JornaldamodA – E em sua vida, como a sororidade está presente?
Camila Frade – Já me vi várias vezes em situações que já julguei, entende? Muitas vezes não tive empatia, porque foi assim que nós fomos ensinadas a ser. Sempre rivais, competindo para ser a mais bonita, a mais gostosa ou a mais santa. Mas chega um dia que você cansa dessa merda e entende que aquela outra mulher não é sua rival. Ela é uma mulher com seus medos, suas vitórias e sua própria história – que sofre repreensão da sociedade como você, e, muitas vezes, pior que você.
JornaldamodA – Poderia citar obras feitas ou estreladas por mulheres que te inspira?
Camila Frade – Slim & Queen. Foi um dos últimos filmes que eu assisti esses dias. Esse filme mostra o que acontece quando uma mulher escritora e uma mulher diretora se juntam para criar. Impecável.
Queria também indicar esse que não é um documentário, nem uma música, mas uma palestra, uma aula com a perfeita Chimamanda Ngozi Adichie, chamada “We should all be feminists“.
Não posso deixar de falar do documentário “Democracia em Vertigem“, da Petra Costa. Muito foda!
E uma música? WILLOW SMITH – FEMALE ENERGY.
Leia mais:
Sororidade: o que é e o que não é?
Resenha do livro sororidade: quando a mulher ajuda a mulher
Fotos Se reinventar através do feminino: Camila Frade.