Depois de morar por um bom tempo fora do Brasil, me acostumei a ouvir que o melhor da “roupa tupiniquim” estava perto do verão e ao lado da piscina: a nossa moda praia. E não perguntava sobre esse tema pra pessoas fora desse mundo, muito pelo contrário, era dentro de uma London Fashion Week mesmo. Mas como será que está esse negócio fora do Brasil de fato?
A segunda quinzena de julho foi bem intensa em Miami, entre biquínis, maiôs e sungas. Por lá estavam algumas marcas brasileiras, como Poko Pano, Cia Marítima, Lenny Niemeyer, Salinas e Sinesia Karol, entre os eventos Mercedes-Benz Fashion Week Miami e Cabana Show.
Aproveitando toda essa movimentação, resolvi perguntar ao porta-voz da Associação Brasileira de Estilistas (ABEST), Roberto Davidowicz, duas coisas que sempre aparecem na minha mente quando o assunto envolve moda brasileira e expansão ou reconhecimento global, já que é fato que nossa moda praia faz muito sucesso.
Paula Roschel – Por que não tem aqui no Brasil um evento de moda praia forte, já que esse segmento é um dos mais expressivos dentro e fora do país?
Roberto Davidowicz – A moda praia brasileira sempre chamou a atenção dos estrangeiros por estar associada com as riquezas e belezas naturais que o Brasil possui: seu litoral exuberante e o lifestyle de nossas cidades litorâneas, principalmente o Rio de Janeiro. No Brasil, acredito que a divulgação de nossa moda praia só tende a crescer graças ao destaque que o Brasil vem recebendo internacionalmente. Para movimentar o segmento, a ABEST promove um salão de negócios duas vezes por ano, o Salão +B, que movimenta as vendas dessas marcas com encomendas de multimarcas e butiques de todo o Brasil e também de outros países. É um nicho que tem todo o potencial para crescer ainda mais dentro do mercado brasileiro.
P – Como está o posicionamento da moda praia brasileira fora do país?
R – Para a ABEST, o beachwear é um segmento muito importante da moda autoral brasileira e dedicamos uma atenção muito especial a ele desde nosso nascimento, há 10 anos. Uma grande prova do sucesso e consolidação de nossa moda praia no exterior foi a criação do +Beach Brasil em 2012. Por meio desse grupo de marcas, a entidade promove o potencial dos biquínis e maiôs brasileiros de forma segmentada no cenário internacional. Em menos de um ano, o +Beach Brasil, composto por 24 grifes, já participou de diferentes ações no exterior por meio da entidade, incluindo desfiles, showrooms e eventos nos Estados Unidos, Europa e Ásia.
Ok, então parece que o desafio está lançado e basta ver se algum executivo se interessará em promover com mais força os nossos maiôs e biquínis aqui e fora. A jornalista e editora de moda do portal R7, Deborah Bresser, também falou um pouco sobre essa nossa força bruta na moda:
“A moda praia brasileira é, de fato, uma potência inexplorada, pelo menos tanto quando poderia e deveria. É bizarro a maior semana de moda praia do mundo ser em Miami e não aqui, por exemplo… As marcas que participam já tem uma presença forte também nas semanas nacionais (como Poko Pano e Cia Marítima). A questão é que há muita informalidade nesta área…basta ir à praia no Rio. Camelôs vendem biquínis a R$ 20…Enquanto um da Cia Marítima custa R$ 200 (só a parte de cima, hein?)”.
Quem também falou um pouco sobre o tema, agora pelo olhar de criação foi a consultora e estilista Lila Colzani: “Uma coisa que todo mundo fala é que o Brasil faz a melhor moda praia do planeta. Só que temos a cultura da parte de baixo (calcinha) muito pequena e internacionalmente a coisa só está começando ‘a pegar’ agora.”
Será que a tal busca do vestuário nacional em achar força e fama fora do Brasil não está exatamente aí? Esse talvez seja o chamariz que precisamos para dar um salto e mostrar de fato um segmento no qual dominamos e produzimos com criatividade e qualidade.
Fotos: Divulgação.