Muitas pessoas me perguntaram nos últimos dias sobre o BBB20 e os tópicos de sororidade que foram abordados na temporada do reality show da Rede Globo, afinal, faz pouco tempo que publiquei meu estudo sobre o tema – que virou livro.
Conversas de impacto
Por muitos anos assistir ao programa que confina adultos que buscam ganhar um prêmio milionário foi motivo de vergonha para muitas pessoas. Eu nunca consegui imaginar algo do tipo. Mesmo não acompanhando tanto as outras edições, sei do peso do entretenimento dentro de grandes veículos de comunicação.
Como profissional da área, há muito tempo percebi no BBB um grande termômetro de onde grandes empresas colocam suas verbas de publicidade – e como fazem isso. O programa é um case de sucesso no entretenimento brasileiro e também referência mundial. Ele também é uma escola de roteiro e edição.
Mas voltando para a sororidade, motivo que me faz digitar as palavras do texto, a pauta entrou no foco do público que assiste BBB por uma fala da cantora Manu Gavassi. Ao votar em Felipe Prior, dinâmica que poderia colocar o participante em risco de eliminação, ela disse que estava tomando a atitude por sororidade.
Isso ocorreu no horário nobre da televisão aberta, em um domingo preguiçoso – como tantos são. Com isso, ocorreu um boom de pesquisas no Google. Aumento de 450% de interesse na palavra, para ser mais exata.
Mas então a sororidade é apenas proteger outra mulher – ela estando errada ou certa?
Não! Não é nem um pouco isso!
A sororidade é mais do que uma palavra! Ela é um movimento social que busca proteger as mulheres através da união e empatia feminina de problemas que só existem por causa do machismo encravado na sociedade. Entre eles, violência, discriminação, sexualização e sobrecarga de atividades domésticas e responsabilidade parental.
A sororidade então apareceu com força, naquele programa, porque existiu um quadro de machismo escancarado – e notado pelas participantes.
Boa parte dos homens da casa elegeram a participante Mari Gonzalez, digital influencer, como alvo de um plano para minar sua imagem. A ideia era fazer com que ela, em um relacionamento fora da casa, “falhasse” e se comprometesse ao “flertar” com algum dos participantes. Em um dado momento, ocorreu uma fala de um deles com o seguinte direcionamento para a morena “não comi porque não estava com fome”.
Só que duas outras participantes souberam do fato e falaram para todas as outras mulheres. Como um sinal de acolhimento, empatia e proteção.
O machismo e a sororidade
A sororidade então não surgiu ali como um clube da luluzinha, para eliminar os homens por puro capricho. Ela apareceu por uma identificação que acontece muito aqui fora – nos unir para não cair.
No caso do BBB, cair em um plano de diminuição da figura feminina em diversos momentos de exaltação da masculinidade tóxica.
Agora sabemos que na final estão Manu (que puxou o fio condutor da conversa sobre sororidade), Rafa (digital influencer que ficou o tempo todo contra o machismo presente na casa) e Thelma, uma médica anestesista que tem uma linda história de superação e também bateu de frente com o machismo.
Não vou entrar aqui no recorte racial que o programa abordou com muita força, com a história do ator Babu e de Thelma. Não é o meu lugar de fala e sigo ouvindo quem passa por isso na pele para entender.
Apenas para finalizar, me sinto feliz por analisar que um programa que é julgado por tantas pessoas como uma futilidade sem fim tenha colocado na superfície uma palavra, que ainda nem existe no dicionário formal, na mente de tantas outras pessoas. A força da TV aberta é surreal. E isso aconteceu por ser o caminho trilhado pelas participantes ali como uma forma de defesa. Foi a história contada por muitos personagens, mas que retrata bastante o que acontece fora daquele estúdio. A sororidade só cresce porque o machismo persiste!
Juntas somos mais fortes. Manu, Rafa e Thelma provaram isso.
Foto: Instagram @thelminha_assis e arte by @atilabrittoo
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