Quase 2 milhões de seguidores no Twitter, mais de 1 milhão e meio de seguidores no Instagram e idealizadora de muitos canais de sucesso no Youtube, como “Cadê a chave?” e “Coisa de Nerd”. Nilce Moretto é esse furacão todo de influência.
O JornaldamodA entrevistou a especialista em conteúdo digital para saber suas opiniões sobre notícias falsas, machismo e feminismo na rede e, claro, sobre como conseguir ter sucesso em um ambiente tão disputado quanto é o digital.
JornaldamodA – Como é desempenhar o papel de influenciadora digital no Twitter?
Nil Moretto: O Twitter é uma plataforma democrática e horizontal. Além disso, é a mais desafiadora. Isso ocorre não só pelas características do algoritmo, mas pela necessidade que você tem de desenvolver sua habilidade de resumo. É uma chapa quente! Você não entra com ela desligada, mas com os assuntos sempre em alta temperatura. Uma vez eu pensei no Twitter como uma grande sala em que as pessoas entram para gritar. Quando você é ouvido ali é uma honra. Eu tenho sido ouvida e acho isso muito gratificante.
JornaldamodA – Você é formada em jornalismo. Como vê a propagação de fake news nas redes sociais – e até fora delas – por figuras públicas?
Nil – Fake news é um dos assuntos que mais tem atraído a minha atenção nesses dias. Eu tenho lido, estudado e pesquisado a respeito, porque é a minha maior preocupação de hoje. Na verdade, quando pensamos em democracia, quando pensamos no jornalismo, na comunicação, é esse o enfrentamento que estamos vivendo agora, em que a realidade se dissolve diante da facilidade com que uma mentira explode no mundo. Nós somos acostumados a enfrentar a mentira com a racionalização dos argumentos, com os fatos. Agora, entretanto, a gente está vivendo uma situação em que fatos e argumentos não se comunicam com pessoas que são levadas a acreditar em uma realidade paralela, movidas pelo medo e pelo ódio. Então, não dá para enfrentar emoções tão fortes, como o medo e o ódio, com a racionalidade dos fatos e dos argumentos, porque aí a gente perde.
JornaldamodA – Como acha que podemos combater as notícias falsas então?
Nil – Como que enfrentamos isso? Eu acho que quando a gente descobrir vai ser uma maravilha (risos). Não acho que vai ser um caminho fácil ou que exista uma única resposta, mas, com certeza, ela passa por educação. Não falo só de educação formal e de qualidade, mas educação em tecnologia. O que acontece hoje é que as pessoas não conhecem tecnologia, e não sabem como ela funciona. As pessoas não entendem como o algoritmo funciona. Então, quando sobe uma hashtag muito popular, e não digo isso só do Twitter, a maioria das pessoas acha que aquilo está sendo a pauta. Se tem muita gente apoiando tal candidato, por exemplo, é muito difícil as pessoas entenderem que pode ser um apoio artificial. Eu e o Leon, que é o meu marido, temos o maior canal de tecnologia da América Latina e temos a preocupação de como trazer conteúdos que democratizem o conhecimento da tecnologia para ajudar nessa questão.
JornaldamodA – São muitos os que querem se tornar influenciadores digitais. Você tem alguns passos para conseguir se estabelecer como um bom criador de conteúdo online?
Nil – Eu não acredito numa receita e em passos, até porque a que eu segui já não vale mais. Quando começamos na internet – que foi há mais de 10 anos -, ainda nem se falava em influenciador. Não havia esse mercado consumidor, nem um mercado, de fato, publicitário em torno das ações na internet. Então, os nossos passos não funcionam mais pra quem entra agora. É outra realidade.
Nós entramos a partir de um hobby que atraiu audiência. A partir dessa audiência houve uma monetização do conteúdo. Com isso, a gente conseguiu reinvestir na produção do nosso próprio conteúdo. As pessoas, atualmente, já entram profissionalizadas e com todos os caminhos “meio que” abertos. Eu acho que o que fica de tudo isso é justamente a valorização do conteúdo, que é o que a gente traz pra todas as nossas iniciativas na internet. O que a gente quer passar? Vai ser um canal do que? Qual o nosso tema? A nossa expertise? O que a gente sabe fazer? O que vale a pena compartilhar com as pessoas? Eu acredito que esse seja o coração do que está funcionando conosco desde sempre. Eu me identifico com os nossos canais e com a produção de conteúdo. Essa verdade é o que funciona na internet. Se eu pudesse apontar pra um caminho seria a priorização e o entendimento do seu conteúdo e o investimento pesado nele.
JornaldamodA – Você tem medo de falar sobre política? Já sofreu ataques de haters por causa disso? Como reage?
Nil – O engraçado é que eu não acho que eu sofro tanto com hater (risos). Eu me posiciono sempre e acho que sei utilizar bem as ferramentas de bloqueio e de restrição de alguns perfis que estão ali pra isso (ataques de ódio). Quando estamos há muito tempo na internet, nós sabemos identificar esse tipo de comportamento e que está virando um padrão. A gente acompanha isso desde o início. Dá pra identificar os padrões de quem está ali te atacando porque não concorda com você ou de quem está ali sistematicamente te atacando porque quer crescer em cima da sua audiência, que é a maioria. São, justamente, pessoas que não têm um conteúdo forte. Elas então resolvem atacar pra querer aparecer ou pra querer um espaço. Muitos perfis surgiram assim: atacando e depois de dois anos desapareceram. Quando você consegue identificar esse padrão, se torna mais fácil reagir a ele e lidar com isso sem o investimento emocional. E, claro, usar as ferramentas da plataforma, que silencia ou bloqueia, dependendo da abordagem que o hater usar pra aparecer. Vou te falar que isso realmente funciona.
Sobre a política, é maravilhoso. Eu adoro falar de política. Eu adoro trazer (aos meus canais) pessoas que falem de política. O que eu mais recebo hoje é: “Nilce, eu não gostava de política e te ouvindo eu comecei a me interessar e eu quero me aprofundar, me indica fonte de leitura?” Eu acho isso uma conquista.
JornaldamodA – Para você, o machismo nas redes sociais é maior, menor ou igual ao de quando você começou na internet?
Nil – É difícil aferir se aumentou ou não, por causa da minha dimensão dentro das redes. Eu cresci muito e no início eu não percebia tanto quanto eu percebo agora. Mas eu não acredito que isso tenha aumentado ou diminuído. Eu acho que é mais a minha exposição a grupos diferentes. Também tem o fato de eu me posicionar politicamente. Isso me faz ser um alvo maior de machismo, pois essa é a primeira pedra que é arremessada: ataques relacionados ao gênero.
JornaldamodA – O que você acha do movimento da sororidade no universo online, como em casos de abuso, assédio ou de pessoas que perdem contratos por uma pressão popular que vibra contra a violência de gênero?
Nil – Sobre sororidade, eu acho sempre que estamos em um caminho de construção nesse sentido, estamos educando meninas, estamos construindo. Neste caminho é natural que existam erros, mas isso não pode roubar a importância e positividade do processo. A gente tem que trabalhar para construir sororidade, construir união entre as mulheres, trabalhar contra a divisão entre mulheres.
Quando eu era repórter e cobria casos em que a mulher era vítima de assédio ou de abuso era muito marcante a sensação de solidão que as vítimas transmitiam – de não poder dividir o sofrimento. De não encontrar segurança quando iam fazer a denúncia na delegacia, porque era um ambiente machista também. Eu acho então que esse movimento online de sororidade é a construção de uma resposta para isso – uma resposta fundamental. Eu vejo por esse lado e acho que temos um longo caminho a percorrer. Esse é um lado positivo da internet, o de poder manifestar apoio com as pessoas das quais a gente se solidariza na dor, na luta por espaços e por direitos. Estamos lutando por direitos, nada além disso.
JornaldamodA – Para finalizar, quais mulheres “da internet” que você segue, admira e recomenda que outras mulheres sigam?
Nil – Tiveram muitas mulheres maravilhosas que eu admirava antes, que eu admiro agora e que eu recomendo demais: Marina Silva, Sonia Bridi, Flavia Oliveira, Marina Amaral, Rosana Hermann, Gabriela Prioli, Alice Pataxó, Vera Magalhães, Mariliz Pereira Jorge, Ilona Szabo, Priscila Cruz, Rosana Pinheiro, Tati Roque e Mônica de Bolle.
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