Como enfrentar a tonelada de informações que circulam nas redes sociais através de suas postagens, entre curtidas e comentários? Para anônimos já é uma tarefa árdua. Imagina então ser uma atriz com alcance nacional e que ainda fala muito bem o que pensa? Conversamos com Mariana Xavier a respeito dessa montanha-russa de emoções do mundo virtual e de como ela encara ataques de ódio e termos que ainda são considerados tabu.
JornaldamodA – Nas suas redes sociais você não tem medo de se posicionar. Como isso aconteceu?
Mariana Xavier – Eu tive um despertar tarde, que foi quando eu me dei conta que tudo envolve política. Isso clareou para mim nas eleições, quando a youtuber Jout Jout fez uma série a respeito do tema. Tudo no nosso meio é fruto de decisões políticas. Se você precisa pagar escola particular, pois a pública não tem vaga ou qualidade, tem relação com decisões políticas. Se você pensar, fomos doutrinados a se isentar de discussões desse tipo. E isso é muito confortável para quem está em camadas de privilégios e quer que a sociedade siga alienada.
JornaldamodA – Você não teme ataque de haters (pessoas que propagam o ódio nas redes)?
Mariana – Sempre tem hater – e nos assuntos mais diversos. Comparado com o que tem por aí, entretanto, eu sofro pouco. Um dos maiores ataques que eu sofri foi na época em que o Silvio Santos fez um absurdo com a Claudia Leitte no Teleton. Eu tinha um canal ativo no Youtube, perto das eleições – todo mundo muito inflamado – e eu fiz um vídeo falando sobre o quão grave foi a mensagem do Silvio. Nessa época, esse vídeo foi alvo de dislike e comentários bizarro, pois o Youtube relacionou o meu vídeo ao de uma youtuber que se intitula “influencer de direita”. Ela falava mal da Claudia Leitte. As pessoas comentavam frases de ódio como papagaios na minha publicação.
JornaldamodA – Como você reagiu? Você apagou os comentários ruins?
Mariana – Eu não apaguei comentários. Vou deixar de viver pra apagar comentário? Eu não! Tem gente que é caso perdido. Não vale a pena a gente gastar a nossa energia. Temos que fazer isso com quem está disposto a refletir, a conversar. Com essa galera muito radical não adianta perder energia. Melhor eu produzir conteúdo para quem está aberto ao diálogo.
JornaldamodA – Qual postagem que você fez e te surpreendeu com o engajamento?
Mariana – Uma sobre o termo madrasta. Foi surreal! Rendeu horrores. Eu não esperava que um textão e uma reflexão tão profunda ia dar tanto engajamento. Teve comentários muitos legais, falando de históricos como enteados ou com enteados, mas claro que também teve comentários depreciativos.
JornaldamodA – Sobre o termo madrasta, que foi tão discutido em suas redes, o que você acha dele?
Mariana – Na entrelinha da discussão, temos a necessidade de atenuar a palavra como “boadrasta”ou “ótimadrasta” e isso demonstra um preconceito que envolve competitividade feminina, mostrando a madrasta como má e inimiga. É um debate muito relevante.
JornaldamodA – Já que falamos de termos, e ser chamada de gorda? Como você acha que está isso hoje em dia?
Mariana – Eu tento usar a palavra da forma mais natural possível. mas ainda existe um estranhamento de muita gente. É muito delicado, porque de fato não é um xingamento, mas tem o tom que você usa também ao falar. O imaginário coletivo com a palavra gorda ainda é muito negativo. Tem vezes que deixo de usar porque a pessoa não está confortável com o título.
JornaldamodA – Você tem medo da palavra feminismo?
Mariana – Eu estava refletindo sobre isso esses dias, pois queria mudar minha bio no Instagram e colocar feminista. Só que eu sinto que tem muita gente que tem resistência ao termo. Existem mil formas de militar – todas elas têm alguma utilidade. Os movimentos não são homogêneos, pois temos particularidades. A minha abordagem é mais branda. A minha forma de questionar e militar não é “voadora no peito” e eu entendi isso após as eleições e meus posicionamentos. Se as pessoas têm medo da palavra feminista? Ok. Eu seguirei passando a ideia feminista de qualquer forma, mas de maneira talvez mais sutil, porque as vezes é o medo da palavra e não das ideias que está em jogo.
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Foto: Instagram.