sexta-feira, março 29, 2024

Trombose x pílula: especialista responde

Pílula anticoncepcional e a trombose, coletor x absorventes internos, esses mesmos absorventes e histórias de infecções graves, DIU hormonal e DIU de cobre, teste de fertilidade pela saliva e tal método sendo usado também como contraceptivo: são tantos assuntos de saúde da mulher que ganham a internet que chega a confundir. Nem sabemos realmente o que faz bem, o que faz mal e aquilo que simplesmente é mentira. Dessa forma resolvi ouvir um especialista que participou da XVI Jornada de Obstetrícia e Ginecologia da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo (SOGESP), Dr. César Eduardo Fernandes. Será que ele consegue dar uma aliviada em tantas dúvidas?

JornaldamodA – Os médicos têm ciência que as mulheres estão cada dia com mais medo dos anticoncepcionais? Nas redes sociais, por exemplo, existem muitos textos circulando com a informação que elas são receitadas sem uma investigação sobre a saúde da paciente?
Dr. César Eduardo – É fato que existe uma preocupação enorme por parte das mulheres, por imaginarem equivocadamente que os médicos não fazem avaliação do uso dessas pílulas. Toda esse alvoroço tem origem em alguns casos de trombose ocasionados pelo uso do medicamento e essas mulheres vítimas disseminam o problema.
As pílulas não são inócuas, elas oferecem risco e um deles é a trombose. Mas é preciso colocar esse risco no seu devido patamar. A questão é: É possível identificar todas as pacientes de risco? Como fazer testes de coagulação indiscriminadamente em todas as mulheres? Todas as diretrizes nacionais e internacionais, e sociedades médicas sérias, não endossam esse uso indiscriminado de teste, até porque mesmo que o teste tenha resultado negativo isso não garante que ela não possa desencadear o problema.
O risco de ter trombose ocorre nos primeiros seis meses até um ano, após dois anos o risco praticamente inexiste. Se a mulher que toma pílula há dez anos e teve trombose, certamente teve outra doença ou ficou acamada. Outra questão é que a gravidez traz muito mais risco de trombose do que a pílula.
Mas não há como garantir que a paciente não terá trombose, caso ela não queira correr nenhum risco, o médico tem que optar por outro tipo de contraceptivo.

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JDM – Qual o impacto da pílula no corpo feminino após muitos anos de uso?
Dr. – O tempo não é importante. Não há o menor risco do uso cumulativo. O risco apenas se dá no inicio porque há um impacto na coagulação da mulher… O que não é aconselhado é parar de tomar a pílula por um tempo e depois de meses voltar a utilizá-la, pois há sempre o risco maior de trombose no inicio do tratamento. O anticoncepcional pode ser feito com pausa para menstruação ou de uso estendido, ou seja, uso continuo.

JDM – O que você acha do teste de fertilidade pela saliva, que é tão usado fora do Brasil, inclusive por casais evitando filhos?
Dr. – Tem muito mais valor no sentido de predizer ovulação do que para evitar a gravidez. “Faço o teste de fertilidade todo mês, evito esse período fértil para evitar a gravidez e não preciso utilizar pílula”, mas isso não é verdade. Ele é muito mais preditivo para quem quer engravidar, seria mais um controle ovulatório para quem deseja realmente engravidar. Uma relação que ocorreu1 ou 2 dias antes da provável ovulação, pode fecundar o ovulo. Como método contraceptivo não é bom.

JDM – E o DIU não hormonal, quais são seus riscos e seus benefícios em relação ao anticoncepcional oral?
Dr. – O DIU não hormonal é altamente eficaz. O risco fica por conta da inserção, pois pode haver perfuração e infecção, por isso a habilidade e a prática do médico conta muito.
Para evitar infecção, trate toda infecção prévia antes de fazer a inserção do DIU.

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JDM – Para finalizar, o que você acha do coletor menstrual, que atualmente está ficando muito popular entre jovens brasileiras?
Não traz benefício. Qual é ideia de coletar o sangue e descartar? Isso é a minha opinião, mas quem tem que responder sobre isso são as mulheres, se isso é confortável ou não. Eu acho que hoje temos métodos melhores como absorventes normais e internos. Os coletores menstruais podem favorecer o choque endotóxico e o risco de infecção bacteriana, pois o sangue fica acumulado. Existem alternativas mais confortáveis que o coletor e o novo sempre desperta mais atenção, mas as mulheres são muito ávidas e saberão decidir o que é melhor.

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