quinta-feira, março 28, 2024

Podia ter sido uma história de amor

“Vou ficar mal o dia inteiro e, com sorte, amanhã pense menos no tanto que esse filme me impactou, tá complicado!” – essas foram as palavras que falei para mim mesma após assistir ao longa “Vidas Partidas”, com estreia dia 04 de agosto.

Mas esse filme e esse tema não sairão da minha cabeça, eu sei!
Aliás, a violência contra a mulher não está apenas pipocando nos jornais e revistas, mas segue dentro do nosso medo diário. E eu, realmente, não conheci uma mulher que vivesse livre dessa gaiola social, mas já trombei com várias que foram vítimas.
E essa agressão é retratada com força na história que ilustrou o que Maria da Penha viveu. Ele não é baseado apenas na vida dela, pois esse tipo de caso é recorrente, mas é impossível não ligar a história da mulher que demorou décadas para ver o que aconteceria com seu algoz ao roteiro.
E você fica chocada em quase todas as cenas, se espremendo na poltrona em inúmeros momentos. Realmente eu não consigo aqui pensar em direção, fotografia ou qualquer outra análise que não seja o sentimento despertado.

E sabe o motivo do choque e desconforto? Pois em certas cenas você quer jurar que aquele horror velado e envelopado como uma tradicional família brasileira é mentira, fruto da ficção. Mas não é! Em um segundo você tem a certeza que isso acontece todos os dias, numa estatística mortal que coloca mulheres como alvo da fúria de seus próprios maridos, pais, avôs, enfim, de homens que fazem parte da sua vida.
Outro ponto interessante, e que impulsiona a minha vontade de indicar esse filme para todos que conheço, é que ele retrata que crimes contra mulheres podem acontecer com as intituladas ” esclarecidas” e “mais favorecidas”: que trabalham, estudam e têm uma vida financeira confortável.

Mais um ponto: Quem interpreta o agressor é o ator Domingos Montagner, que atualmente é Santo dos Anjos, o galã da novela Global “Velho Chico”. E ele não é aquela sombra da rua deserta, o violentador sem rosto que pula na sua frente quando você passa por um terreno baldio, mas um homem sedutor, instruído e, mais do que isso, parte daquela família.

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O longa também mostra o dano da violência psicológica, muitas vezes usada para culpar a própria vítima, a diminuindo como histérica ou frágil demais. Não dá pra pensar que violência é só soco na cara, não é mesmo?
Enfim, dá até medo de soltar um “spoiler” do longa, mas, quando os créditos subirem na sua frente você vai entender, independente do gênero, que o que foi mostrado ali já tinha sido apresentado não como “spoiler” em outro lugar, mas como simples realidade.
Agora uma observação pertinente sobre a protagonista: a atriz Naura Schneider trabalha com o tema da violência doméstica faz um bom tempo, inclusive produziu o documentário “Silêncio das Inocentes” que você pode conferir um trecho aqui:

Foto: Divulgação.

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